Obras que se eternizam

Obras que se eternizam

Quando eu era jovem, entre meus 18 e 40 anos, a coisa mais difícil de eu colocar em minha mente, era um plano para o meu futuro, tudo me parecia consumido instantaneamente, o trabalho, o fruto do trabalho.

Quando começamos a alcançar a maturidade e sentimos que já não temos mais a mesma força em nossos braços, somos despertados para sentir a necessidade de olhar para um futuro a nos manter vivos em nossa velhice, uns aspiram a aposentadoria, outras já encaram que ela não será suporte e deverão continuar trabalhando.

Mas a grande lição que vem das cãs, é que se na experiência do jovem há uma ambição de alcançar seu sonho, na maturidade há uma grande cobrança em si mesmo, do sentido do seu existir, o que faz o homem na sua maturidade, se sentir muitas vezes desafiado a rever seus atos, e a questionar no seu íntimo, o sentido da sua vida.

Essa dor, ou, inquietação natural vem da Sabedoria, ou seja, não se trata de um pensamento, mas, de uma movimentação do espírito que agita em seu ser, agora não mais com a impetuosidade do homem jovem, mas, com a serenidade do homem sábio, e ele pode perceber em si, de uma forma nova, o sentido de suas obras:

O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso

“A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o começo da sua existência, o homem é convidado a dialogar com Deus: pois se existe, é só porque, criado por Deus por amor, é por Ele, e por amor, constantemente conservado: nem pode viver plenamente segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e não se entregar ao seu Criador”. (CATECISMO, nº 27).

Esta Sabedoria ao ser despertada na consciência do homem, faz com ele consiga sentir a razão do seu existir, já não mais para uma obra temporária, mas chamado para uma obra eternizante, de cidadão da Cidade de Davi, Sião, onde encontra o seu destino, em cujo centro encontra-se o Palácio Real.

Pois o Senhor quis para si Jerusalém
e a desejou para que fosse sua morada:
14 “Eis o lugar do meu repouso para sempre,
eu fico aqui: este é o lugar que preferi!”
(Salmo 131 [132] Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025).

Esta cidade tem por alicerce o Espírito, e para reconhecermos este Espírito, precisamos lembrar da Vida que é ressurreição, o Cristo:

25Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?” 27Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (João 11,25-27 – 17ª Semana do Tempo Comum, Memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro – 29 jul. 2025).

A ressurreição significa o maná, o pão que alimenta a vida, a nutrir a vida, como o sangue que corre em nossas veias para nos manter vivos, não se confundindo com reencarnação que significa, o apossamento do corpo, como nos é mostrado por Jesus, diante do seu túmulo, quando falou à Maria Madalena:

Jesus disse:
“Não me segures.
Ainda não subi para junto do Pai.
Mas vai dizer aos meus irmãos:
subo para junto do meu Pai e vosso Pai,
meu Deus e vosso Deus”
(João 20,17 – 16ª Semana do Tempo Comum, Memória de Santa Maria Madalena – 22 jul. 2025).

Disse isso para compreendermos que o Espírito de Deus em nós, é Palavra de Vida, e nela se perpetua a Vida como Espírito, da qual, nos alimentamos pela nossa amizade com Deus, precisamos entender também que vencer a morte significa que somos assuntos aos céus pelo mesmo Espírito, acompanhando a ascensão do Sacerdote Eterno, que tendo subido aos céus, apresentou o sacrifício perpétuo, preparando nossas moradas, para assim, santificar a criação e alimentar, fazendo nova, a Vida pelo Espírito que repousa sobre nós.

É por isso, que os amigos de Deus, que preservam em si o dom do Espírito , Na Vida que há em nós, trazem o selo testamentário a nos dar por herança uma morada:

Por isso, nós vos anunciamos este Evangelho:
a promessa que Deus fez aos antepassados,
33 ele a cumpriu para nós, seus filhos,
quando ressuscitou Jesus,
como está escrito no salmo segundo:
‘Tu és o meu filho, eu hoje te gerei'”
(Atos dos Apóstolos, 13, 32-33 – 4ª Semana da Páscoa – 16 mai. 2025).

Assim, o verdadeiro sentido de nossas vidas, assim como o Filho subiu, se completa ao sermos chamados para a obra viva e eterna, que continuamos, não um dia, mas desde agora, a edificar onde também mora Deus, que habita no seio da Arca Viva, Sião, a cidade de Davi, que desde os tempos antigos, já acolheu em seu seio o próprio Filho.

3Davi convocou todo o Israel em Jerusalém,
a fim de transportar a arca do Senhor
para o lugar que lhe havia preparado.
4Davi reuniu também os filhos de Aarão e os levitas.
15Os filhos de Levi levaram a arca de Deus,
com os varais sobre os ombros,
como Moisés havia mandado,
de acordo com a ordem do Senhor
(Crônicas, 3,3-4.15 – Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025).

Da Ascensão do Cristo, agora somos convidados também, ao ressuscitarmos, a sermos assunto aos céus, habitando a cidade de Davi,

Quando este ser corruptível
estiver vestido de incorruptibilidade
e este ser mortal estiver vestido de imortalidade,
então estará cumprida a palavra da Escritura:
“A morte foi tragada pela vitória.
55Ó morte, onde está a tua vitória?
Onde está o teu aguilhão?”
(2ª Carta aos Coríntios, 15, 54-55 – Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025 – missa da Aurora).

Fomos poupados da Mansão dos Mortos, para como herdeiros, como cidadãos celestes edificar a Cidade que foi estabelecida a morada do Senhor.

Davi ordenou aos chefes dos levitas
que designassem seus irmãos como cantores,
para entoarem cânticos festivos,
acompanhados de instrumentos musicais,
harpas, cítaras e címbalos.
16,1Tendo, pois, introduzido a arca de Deus
e colocado no meio da tenda que Davi tinha armado,
ofereceram na presença de Deus
holocaustos e sacrifícios pacíficos.
2Depois de oferecer os holocaustos
e os sacrifícios pacíficos,
Davi abençoou o povo em nome do Senhor
(Crônicas, 16, 1-2 – Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025).

É nessa amizade que nos tornamos dignos da purificação necessária para vivermos na Casa do Senhor, a cidade de sua morada

2O Senhor é grande e muito louvável
na cidade do nosso Deus.
3Seu monte santo, belo em altura,
alegria de toda a terra:
o monte Sião, vértice do céu,
cidade do grande rei.
4Entre seus palácios,
Deus se mostrou como fortaleza
(Salmo 47 [48], 2-4).

O sentido do nosso viver, vem do Espírito que nos renova, Nele está toda a Sabedoria e força que constrói a vida, por isso, celebramos na cidade de Davi, o louvor à Arca cujo Deus nela habita:

R. À vossa direita se encontra a rainha,
com veste esplendente de ouro de Ofir.

10bAs filhas de reis vêm ao vosso encontro, †
ce à vossa direita se encontra a rainha *
com veste esplendente de ouro de Ofir. R.

11 Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: *
“Esquecei vosso povo e a casa paterna!
12aQue o Rei se encante com vossa beleza! *
bPrestai-lhe homenagem: é vosso Senhor! R.

16Entre cantos de festa e com grande alegria, *
ingressam, então, no palácio real”.
R. (Salmo 44 [45] – Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025).

Agora portanto, nossas cãs nos vêm completar os sentidos, diante de um mundo de escuridão, sussurrar em nossos ouvidos: escutai, minha filha, olhai ouvi isto. “esquecei vosso povo e a casa parterna!”, e olhe para a Glória que te coroará.

Enquanto Jesus falava ao povo
uma mulher levantou a voz no meio da multidão
e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe
e os seios que te amamentaram”.
28Jesus respondeu:
“Muito mais felizes são aqueles
que ouvem a palavra de Deus
e a põem em prática
” (Lucas 11, 27-28 – Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria – 17 ago. 2025 – missa da Aurora).

Conclusão

Como é bom sermos agraciados por tão bela promessa, pois completa todo o sentindo de existirmos, nos revelando a verdade de para que fomos criados. Por outro lado, quase sempre permanecemos sem maturidade para isso, como crianças que faz Deus perguntar: Quando é que você vai crescer? Torne-se um homem. Por isso te pedidmos agora ó Deus, deixe tua luz brilhar em nós, como cantou Collective Soul em Shine:

Referência

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1999.

Sobre o Autor

Laurentino Lúcio Filho administrator

Advogado na área cível-empresarial, há 26 anos, Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital na linha da Semiótica Cognitiva com foco em formação docente e Professor Universitário nas graduações de Adminsitração, Gestão de Pessoas e Contabilidade.

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