Superando as dores

Iniciando o tema 4 do capítulo 2, da Praxis, vamos abordar a experiência com a dor, pois vivemos nas últimas décadas, o tempo das dores, pois a alegria de nossas festas foram trocados por tragédias, violências, corrupção e opressão.

Credit: cicloviasinvisiveis.com

Já não temos os cantos nas ruas, já não não reunimos com o vigor de brindar as vitórias dos campeonatos com os amigos, e nos últimos tempos, vivenciamos continuamente a dor pelo luto de nossos amigos, e nossos próximos.

Se olharmos para dentro de nosso coração enxergamos apenas o lamento, a saudade dos amigos que passaram por nossas vidas, pelos parentes que perdemos, o cansaço pela opressão da avidez tributária do Estado sem retorno de dignidade e cidadania, o excesso de trabalho com pouco retorno financeiro, endividamentos familiares.

Nosso sol se tornou escuro, nossas luas sangrentas, as estrelas parecem pálidas, e os Céus se foram, nos deixando neste deserto vazio, nebuloso, cheio de ódio, violência, indiferença, longe da graça de sentir que Deus existe.

Diante disso, perguntamos porque há tantos sofrimentos, tanta dor, tanta morte, tanta indiferença, tanto ódio? E a resposta vem na singeleza do conselho de um pai, ou, de uma mãe: estamos sofrendo por termos escolhido o caminho do filho pródigo, antecipamos a herança e saímos para o mundo por nós mesmos, por isso, perdemos todos os nossos bens, e agora, sob o risco de perder a própria Terra, e toda a nossa dignidade.

E assim, estamos sofrendo as dores porque até agora, errantes, não reconhecemos que precisamos mudar nosso modo de ser, abandonar o sonho de controlar, de dominar, para passarmos a reconhecer nossa impotência.

Isto quer dizer, renunciar ao controle próprio dos fatos, deixando que os fenômenos tomem o curso natural de sua realidade, deixando de olhar para as tragédias que nos circundam como obras do acaso, mas com um coração contrito, passarmos a reconhecer que elas são frutos dos nossos erros.

Enquanto não mudarmos nosso olhar continuaremos a viver as dores cada vez mais intensas. Mudar o olhar ou mudança de vida, não significa buscar tentar fazer tudo certinho, significa renunciar todo o controle interno de si mesmo e passar a deixar que as leis naturais é que direcione o comportamento.

Mudar de vida também não significa deixar as coisas por si mesmas, e nos tornamos passivos, mas sim, apreendermos a abrir nosso coração para a voz da Natureza, a sabedoria dos DNA’s, não biológicos, mas, DNA’s “em Espírito”, que nos sussurram as orientações de nossos pais nos direcionando para os atos que temos de realizar, pois do contrário continuaremos a andar errantes, sem dignidades e repletos de dores, como já nos ensina as Escrituras pelo Profeta Isaías:

4 Ai! Gente pecadora, povo carregado de crimes, geração de malfeitores, filhos degenerados!

Abandonaram o SENHOR, desprezaram o Santo de Israel, andaram para trás.

5 Se continuais nessa revolta, podereis ainda levar pancadas? A cabeça toda está doendo, o coração inteiro, magoado.

6 Da sola dos pés até o alto da cabeça não há nada são. É só machucado, vergão, ferida aberta, sem limpar, sem tratar, sem remédio para aliviar.

7 É assim mesmo: vosso país está arrasado, vossas cidades, destruídas pelo fogo, a as terras, bem diante dos vossos olhos, devoradas por estrangeiros. É a devastação, a invasão de inimigos.

8 Jerusalém, a filha de Sião, ficará como um rancho no vinhedo, uma choupana em plantação de pepinos, cidade cercada pelo inimigo.

9 Se o SENHOR dos exércitos não nos tivesse deixado uma sobra, ainda que pequena, ficaríamos como Sodoma, semelhantes a Gomorra (Is 4-9).

Temos de aprender a perceber nossos erros, observando que hoje somos chamados para uma mudança de vida, e essa mudança de vida significa eu deixar de acreditar que os próprios pensamentos são capazes de conduzir a prática de vida ideal, de justiça, mas removê-los todos, isto é, renunciar a si mesmo.

Assim, diante da dor do luto pela fome, diante da dor luto pela peste, diante da dor do luto pela guerra, renunciando a nós mesmos, poderemos enxergar que a solução não vem de nós, pois, se tudo isso está acontecendo não é por castigo de Deus mas por efeito de nossas caminhadas errantes, servindo para mostrar para nós, que nos afastamos da Solução de Deus, e perdendo a sua graça, e por isso estamos sucumbindo.

Precisamos aprender a renunciar a nós mesmos, isto é, como que sentados de carona no quadro de uma bicicleta, permitir que o piloto dela, Jesus, a conduza sem a nossa interferência, permanecendo obedientes aos pedidos Dele, assim, confiantes de que o caminho por mais tortuoso e acidentado que possa parecer, sob a direção dEle, chegaremos ao lugar seguro, com paz, dignidade e justiça.

Conclusão

Vimos a tragédia de uma pandemia, e o homem, dizendo-se tratar-se de um mal, correu para dar sua solução. Alguém voltou-se para Deus e disse: Senhor perdoai-nos pois, atraímos para nós o mal?

Estamos vivendo a tragédia da fome pela acumulação dos investidores que tornam os homens do mundo cada vez mais ociosos, sem condições de trabalho. Todos escolheram os próprios caminhos sob como sobreviver as crises, mas, alguém voltou-se para Deus e disse: Senhor, nos afastamos de vós por isso, fomos entregues nas mãos de nossos opressores?

Estamos vivendo a tragédia da guerra, pela ambição, mesquinhez e miserabilidade humana. O mundo correu para criar uma solução através de sua arrogante forma de controlar e dominar as pessoas. Alguém voltou-se a Deus e disse: Senhor, estamos prestes a sucumbir por nossos erros, mostrai-nos a vossa face?

Diante destas questões podemos perceber, mesmo diante de tantas tragédias, que não voltamos para Deus, e, ainda, o quanto estamos distantes de renunciar a nós mesmos pois estamos presos as soluções puramente humanas e não queremos abrir mãos do poder de dominar e controlar, fechando nossos ouvidos para os sussurros dos DNA’s de nossos pais, permanecendo rebeldes, surdos, não damos nenhuma atenção aos seus conselhos:

Abandonaram o SENHOR, desprezaram o Santo de Israel, andaram para trás.
5 Se continuais nessa revolta, podereis ainda levar pancadas? A cabeça toda está doendo, o coração inteiro, magoado. (Is 1,4-5).

Observemos então que não se trata apenas de uma mudança de pensamento, ou, de comportamento, mas de renúncia de nós mesmos que só é possível pela graça de Deus e não pela nossa própria vontade. E essa graça só acontece quando restabelecemos a Aliança Sagrada, criando em nós a amizade fiel entre Deus e o homem. A partir daí, é Ele quem dirige e não nós mais.

Do que você tem medo? De estar de carona em um bicicleta segura, ou caminhar por tuas próprias pernas e cair no abismo? Mude, volte ao valor de ter um amigo fiel.

“Permaneçamos com os corações vigilantes pois o GRANDE DIA está próximo, em que Jesus Cristo retornará na glória e esplendor, dando-nos a Verdadeira Vida. Assim, suplicamos em nossos corações: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos!” (Sl 79).

Entre nós… Aleluia! Dentro de nós… Maranatha! Saudações em Cristo” (VELOSO, 2021, p. 1)!1

1VELOSO, Dom Eurico dos Santos. Quarto Domingo do Advento.In Artigos CNBB – 16/12/2021. Disponível em https://www.cnbb.org.br/quarto-domingo-do-advento/. Acesso em 04 mar. 2022.