Hoje iniciamos os trabalhos construindo o Capítulo 2, em que será abordado a prática da Palavra no nosso dia a dia, que também pode ser chamada de Praxis Cristã. Para isto, vamos nos valer das leituras da liturgia missal do mesmo dia da produção deste texto que é Mc 7,31-37 – Quinta Semana do Tempo Comum – Ano C – 11/02/2022.
A prática deste trabalho será a de entender que na relação de Deus com o homem, há alguns preceitos fundamentais, entre eles a de não construir deuses falsos adorando imagens, como diz a liturgia de hoje: “10Em teu meio não exista um deus estranho nem adores a um deus desconhecido”! (Sl 80, 10).
O primeiro ponto que temos de considerar aqui é se existe um deus estranhos, ou se adoramos um deus desconhecido nos dias de hoje. Se olharmos para o Mundo que definha sob as dores da violência, injustiça e devassidão, barbáries, corrupção, a resposta é sim, existe deus estranho e adoramos um deus desconhecido.
O segundo ponto, depois da resposta acima é: quem é o deus estranho e o deus desconhecido que adoramos? A resposta é: a imagem de um deus humano que relacionamos como se fosse Jesus Salvador, que é representada pela grande estátua do sonho de Nabucodonossor no Livro do Profeta Daniel, ou Falso Profeta, por que Deus não pode ser relacionado à imagem:
Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem esculpida, nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou mesmo nas águas que estão debaixo da terra (Ex 20,4).
Para compreendermos isso, é preciso entender que Cristo encarnou-se no seio da virgem, sim, se fez carne, mas, ao se fazer carne, não viveu a corrupção humana, manteve-se íntegro, sem pecado, por isso, não é um deus humano, se fez igual a nós não como pessoa, mas sim, ao mergulhar nas trevas em que a humanidade está mergulhada, como diz São João:
1 No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. 2 Ela existia, no princípio, junto de Deus. 3 Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. 4 Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5 E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. 9 Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. 10 Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. 11 Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram (Jo 1,1-6.9-11).
Por isso, adoramos um deus desconhecido, pois, se fosse permitido adorar a imagem de um homem ainda que relacionada a Jesus Salvador, estaríamos quebrando a Palavra que diz: Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem esculpida, nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou mesmo nas águas que estão debaixo da terra (Ex 20,4).
E, também ao figurarmos Jesus, o Salvador, à uma imagem de homem, estaríamos quebrando a Palavra, quando disse São Paulo de que a fé é a relação com Deus na forma de nos apresentarmos a Ele, sem o vê-Lo: “1 A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem” ( Hb 11,1).
Assim, parece-nos que estamos adorando um deus estranho e desconhecido, quando relacionamos a imagem de um homem a do Senhor Jesus, o que faz surgir o terceiro ponto: se estamos adorando um deus estranho e desconhecido”, também já somos capazes de ouvir a Palavra do Anjo que disse à Marta na madrugada da Ressurreição: “Ele não está aqui, ressuscitou como disse”.
Essa resposta do Anjo vai nos direcionar também ao que falou os Anjos aos Apóstolo na Ascensão do Senhor ao Céus, quando disseram:
10 Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (Atos, 1,10-11).
Estas Palavras Sagradas, nos ajudam a compreender a forma correta de adorarmos o Deus verdadeiro, nos fazendo entender a Palavra da Liturgia missal que nos diz hoje:
34Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efatá!’, que quer dizer: ‘Abre-te!’
35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. (Mc 7,34-36).
Nesta Palavra em que o Senhor recomenda com insistência ao homem que havia sido curado para que não contasse a ninguém sobre a cura que se realizava, é pela razão de que não era Ele quem havia feito a cura, diante de sua condição humana, não foi Ele quem curou, mas sim Deus, pois, tudo provém de Deus.
No entanto, ao contrário disso, a divulgação daquela cura criaria, como de fato criou, uma imagem que relaciona falsamente a cura com a habilidade de um homem Jesus, como um deus humano, ao passo que Jesus ao recomendar ao homem curado, que se mantivesse o segredo daquela cura, era para que aquele homem permanecesse na contemplação da Graça de Deus que por sua misericórdia curou o surdo, vivendo a Fé, ou seja, sem se ver Deus.
Mas o homem não se manteve na Graça de Deus, e revelou para o mundo o segredo, e diante disso, não reconheceram a Luz, mas sim, todos se impressionavam com a destreza de um deus homem:” Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: ‘Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar’”.
Se estamos adorando um deus estranho e desconhecido, faz surgir o quarto ponto deste trabalho: Se não reconheceram a Luz, porque não A reconheceram, onde estava a Luz?
Para compreendermos esse ponto temos de entender que o Senhor, sendo Luz, assemelhou-se ao homem que é a Lâmpada, por isso, Luz e Trevas criaram uma semelhança comum, sob a forma de nuvem.
Assim, o Senhor, sobre as nuvens, ou seja, a Luz no momento da cura do surdo, parecia uma simples lâmpada, que só podia ser reconhecida pelo interior na Fé como Graça de Deus, e, não pelo exterior, isto é, pelo espetáculo produzido na imagem dos fatos que pareciam revelar diante dos homens a falsa ideia de um deus humano.
Conclusão:
Concluímos esse trabalho apresentando o Cristo pela Fé, pois, aqueles que seguem o Senhor, não se atrevem a olhar para Ele, mas, sob a Fé, imitam o exemplo de Simeão quando foi ao templo, conduzido pelo Espírito Santo, apenas contemplando permanentemente a Graça de Deus:
28 Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo:
29 “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, 30 porque meus olhos viram a tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo” (Lc 2,-28-30).
No entanto, nos dias de hoje vivemos o culto camuflado do sagrado, atribuindo a Jesus a imagem de um deus humano, que se repete desde os tempos antigos em que Israel se rebelou contra Deus, adorando o Falso Profeta.
E assim, desde sempre até hoje continua cultuando a idolatria, narrada pelo Profeta Daniel no sonho de Nabucodonossor, representando que em toda a história o homem adorou deuses estranhos e desconhecidos.
Sendo o culto à idolatria: na Idade Antiga (cabeça de ouro), na Idade Média (o tronco de prata), na Idade Moderna (pernas de bronze), e, na Idade Antropoceno (pés de ferro e argila), como diz a Liturgia Missal de hoje na Primeira Leitura: Israel rebelou-se contra a casa de Davi até ao dia de hoje (Mateus 12,19).
Por isso, os Filhos do Espírito, que reconhecem Deus sem olhar para Ele, estão sob a frequência da Luz, como a Lâmpada do homem que se assemelha a uma lâmpada de luz infravermelha, pois ao resplandecer a Luz, parece estar apagada, não cria espetáculos aos olhos.