Como os irmãos de Emaús, ao caminharmos ao lado do Sagrado Coração de Jesus, sentimos o nosso coração arder, mas não o reconhecemos: “não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as escrituras” (Lc 24,32 – Liturgia do 3º Dom. da Páscoa), porque muito falta em nós a revelação do sentido da espiritualidade que provém do Sagrado Coração de Jesus, por isso iniciamos este artigo, em primeiro lugar, tentando reconhecermos a nós mesmos diante do Sagrado Coração de Jesus.
Essa revelação provém da graça de Deus, e não do esforço próprio do homem, pois, o homem por si só não pode alcançar a Deus, porque o servo sendo menor do que o seu Senhor, precisa da misericórdia do Senhor para que possa tornar-se Seu amigo, por isso, não O reconhecemos muitas vezes, pois, não O vemos como amigo, e nem buscamos a sua misericórdia para que forme em nós sua amizade, e, por isso, só sentimos o nosso coração arder, mas, não o reconhecemos, pois estamos em meio às trevas que nos ofuscam.
Ao arder em nós, o Sagrado Coração de Jesus se constitui de sinal da misericórdia de Deus que nos ama mesmo nós sendo pecadores, mesmo sem o reconhecermos, mesmo com nossos olhos estando encobertos, Ele conserva em nós a esperança de nos libertarmos das profundezas da escuridão, por isso, nós clamamos por sua misericórdia:
–1Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, *
2†escutai a minha voz!
– Vossos ouvidos estejam bem atentos *
ao clamor da minha prece!
–3 Se levardes em conta nossas faltas, *
quem haverá de subsistir?
–4 Mas em vós se encontra o perdão, *
eu vos temo e em vós espero (Sl 129, 1- – Liturgia da 1ª Sem. da Quaresma).
E a escuridão reina quando elegemos como fonte e referência do saber, os nossos próprios pensamentos, sob o propósito de um coração independente, de autodomínio, por isso, nos tornamos incapazes do reconhecimento do Cristo, porque rompemos com Deus, e, ainda que nos esforcemos com a nossa inteligência em nos aproximar, há um abismo entre nós e Deus.
Assim, a luz só brilha pela misericórdia de Deus quando nos prostramos aos seus pés, e com isso nos tornamos capazes de sermos amigos de Deus, restabelecendo com ele a Aliança Eterna, pelo renascimento do alto como ensinado ao mestre Nicodemos:
‘Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus. De fato, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, a não ser que Deus esteja com ele.
3Jesus respondeu: ‘em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus’. 4Nicodemos disse: ‘Como é que alguém pode nascer, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe?’ Jesus Respondeu ‘Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. 6Quem nasce da carne é carne; quem nasce do Espírito é espírito’ (Jo 3,1-6 – Liturgia 2º Dom. da Páscoa).
Portanto, quando percebemos que nossos pensamentos nos enganam, vemos que essa graça não provem de nós, miseráveis pecadores que somos, mas somente como dom de Deus, como nos foi revelada no louvor de São João:
Caríssimos,
29 já que sabeis que ele é justo,
sabei também que todo aquele que pratica a justiça
nasceu dele.
3,1 Vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
de sermos chamados filhos de Deus!
E nós o somos!
Se o mundo não nos conhece,
é porque não conheceu o Pai (1Jo, 2, 29.3,1 – Liturgia de Natal antes da Epifania).
Assim, o Sagrado Coração de Jesus faz nosso coração arder, e como amigos que o reconhecem, respondamos com o nosso louvor porque diante de Deus fomos agraciados pelo grande presente oriundo de sua misericórdia, o grande presente de amor que o Pai nos deu.
Dessa forma, ele nos permite reconhecê-lo no meio de nós, o Emanuel, o Deus conosco revelando-nos que entre nós fez sua morada:
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra,
e o meu Pai o amará, e nós viremos
e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23 – Liturgia da 5ª Sem. da Páscoa).
Tendo reconhecido nossas misérias, se faz possível também, completar os sentidos do Sagrado Coração de Jesus, porque ao restabelecemos com Deus nossa amizade, o Senhor se revela para nós como fonte da salvação: “Haurireis águas com gáudio das fontes do Salvador” (Is 12, 3) (Papa Pio XII – Haurietis Acqua).
O Senhor ao se revestir da figura humana, de modo compreensível à inteligência humana, como o Emanuel, que significa Deus conosco, revelou a glória de Deus para o mundo:
“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém,
porque chegou a tua luz,
apareceu sobre ti a glória do Senhor.
2 Eis que está a terra envolvida em trevas,
e nuvens escuras cobrem os povos;
mas sobre ti apareceu o Senhor,
e sua glória já se manifesta sobre ti” (Is 60, 1-2 – Liturgia da Epifania do Senhor).
A inteligência do homem se abriu, e ao reconhecer o Emanuel, o Deus conosco, pode contemplar como testemunhando a um raio que transpassa o tempo, que abriu uma fissura nos mistérios que separavam o céu e a terra, o Senhor se fez luz para todas as nações, isso quer dizer que no mesmo fenômeno luminoso, se revelou sem as dimensões do tempo, isto é, ao mesmo tempo, para aqueles que eram, que são e que serão, como era no princípio, agora e sempre, Amém!
O Emanuel como a Árvore da Vida, no meio do Jardim de Deus, tornou-se um sinal permanente no mundo ao mesmo tempo em todos os tempos, a brilhar como o calor do fogo que o homem busca na escuridão da noite gelada, ao estender sua mão para capitar um pouquinho da luz e calor, cuja misericórdia transpassou o tempo e se revelou ao mesmo tempo para os que já vieram, para os que são contemporâneos de Maria, e para os que virão, como um farol que pode ser visto além das dimensões temporais, por todo aquele que professa a sua fé, podendo assim também, testemunhar que em “Eu Sou”, não há passado, presente e futuro, por isso Ele diz: “Eu sou”: “Quando tiverdes elevado o Filho do homem, então sabereis que eu sou e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou” (Jo 8,28 – Liturgia da 5ª Semana da Quaresma).
A “haurietis acqua” é um pulsar no coração do mundo, para que todos os que têm sede beba, uma herança do céu que já podemos desfrutar, o Emanuel, é como um farol a brilhar para todo os navegantes de todos os tempos simultaneamente, porque É o que É, como era no princípio agora e sempre, amém, e diz: “Eu Sou”, para que todos a Ele recorram como fonte de salvação do agora, presente tanto aos nossos antepassados, à nós, e, aos nossos filhos que virão: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20,38), pois, está no meio de nós, Deus está conosco, plasmando como a estrela de nêutron, o Espírito em Vida, pois a Palavra é Espírito e Vida, no centro do coração como na imagem abaixo.
Neutrons star1
Um farol visível do peito de Deus pelo homem que o reencontra e com Ele volta a amizade na Aliança, o Sagrado Coração de Jesus, o Salvador como fonte a nos amparar:
Luz Fonte central da Vida
Quando nos vemos sem qualquer saída, Ele se monstra à Luz do Coração, e basta buscarmos a fonte de salvação (haurietis acqua) e estendermos a nossa mão ao calor de sua luz e logo estamos protegidos pelo Pai que ampara o filho:
=2Quando eu chamo, respondei-me, ó meu Deus, minha justiça! †
Vós que soubestes aliviar-me nos momentos de aflição,*
atendei-me por piedade e escutai minha oração!
–3Filhos dos homens, até quando fechareis o coração? *
Por que amais a ilusão e procurais a falsidade?
–4Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo, *
e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha prece (Salmo 4, 2-4)!
Portanto, o Sagrado Coração de Jesus é a presença viva do Emanuel, o Deus conosco, Ele está no meio de nós, quando o reconhecemos como glória de Deus brilhante a partir de uma manjedora, vivo desde sempre como Estrela da Manhã, a nos dar o calor, a luz, e, saciar a nossa sede, bastando que estendamos nossas mãos, e, nos apeguemos à divina vontade que sabe e conhece nossas necessidades e fraquezas: “já que o nosso amor de tal maneira se apega à divina vontade, que vem a fazer-se uma coisa só com ela, consoante aquelas palavras: “Quem está unido ao Senhor é com ele um mesmo espírito” (1 Cor 6, 17) (PAPA PIO XII – Haurietis Acqua).
Vejam que grande presente de amor o Pai nos deu, de sermos chamados de filho de Deus, por isso, já podemos ver que Ele está vivo ao nosso lado, e podemos tocá-lo, basta para isso, que em nós o nosso amor só deseje fazer uma só coisa: estar unido ao Senhor para que Ele e o Pai faça-se em nós suas moradas, abrindo nosso coração para acolher ao Espírito (Ecce ancilla – faça-se em mim, conforme tua Palavra).
Pois assim, conseguimos reconhecer a luz do Sacrifício Perpétuo que eternizou a Aliança de Abrahão, pela abertura de uma fenda nas trevas dos abismos, comungando seu seguidores com o Ecce Venio – ei que com prazer faço a vossa vontade, no sacerdócio régio que complementa a obra do Criador, como era no princípio, agora e sempre, amém, e nos tornamos com unido aos pais e ao nossos filhos, a geração de todos os tempos que testemunhou “Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isso aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão (Mc 13, 30-31 – Liturgia do 33º Dom Tempo Comum), bebei da água que sacia tua sede “Haurireis águas com gáudio das fontes do Salvador” (Is 12, 3) (Papa Pio XII – Haurietis Acqua).
O Senhor está no meio de nós, seu Sagrado Coração é a fonte de água viva, a mesma que Moisés fez jorrar batendo seu cajado na pedra.
1NASA – Neutrons Star: Disponível em https://imagine.gsfc.nasa.gov/science/objects/neutron_stars1.html. Acesso em 09 mai. 2023.
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