O crescimento contínuo

Este trabalho apresenta uma análise sobre as propostas de mudança, como meio crescimento humano.

Iniciamos este novo trabalho, fazendo um resumo dos temas já trabalhados anteriormente, em que temos:

a) – no primeiro tema, tivemos a apresentação da importância do Processo Sinodal;

b) – No segundo tema, foi desenvolvido a formação da percepção da realidade presente como meio de se criar sentido de caminhada e estratégias de ação;

c) – No terceiro tema, se tratou da fusão energética, ou infusão do Espírito, sobre a criação, na forma de dom que constitui cada fenômeno criado ou gerado dentro da realidade da dimensão do Universo, constituída de imaterial + fusão + material, na Arte composta pelo Alfa, Tau e Ômega.

Neste quarto tema, vamos abordar o impulso humano decorrente da cultura consumista que paira sobre a ideia humanista de sempre agradar o freguês e a de que todos os produtos precisam de uma atualização (upgrade), inclusive os próprios serviços religiosos nas Igrejas.

Mas, ao se pensar em atualização dos serviços religiosos, temos de considerar que se a Palavra de Deus é perfeita, e não passa, devemos compreender que a sensação de obsolescência no serviço religioso, não surge pelo fato da Palavra ter ficado antiquada, mas sim, porque ela está sendo aplicada mais ou menos assim: Os discípulos acharam duras a Palavra de Jesus Cristo, então buscam uma forma de fraudá-la sob o pretexto de torná-la viável.

Esta prática é a mesma forma que já faziam os fariseus, sem o Espírito, ou seja, apenas com o Imaterial = Alfa e Material = Ômega em que a interação com Deus é apenas no meditar a Palavra.

Para compreendermos melhor, vamos lembrar do tema anterior, porque o serviço religioso atual aqui apresenta o mesmo erro do quantum, que contem só o picossegundo e o nanômetro, pois, no serviço religioso que conhecemos, ele contém o imaterial (culto-ritual) formado pelo clero, que equivale ao picossegundo, e o material (secular) formado pelo mundo que equivale ao nanômetro, não se incluindo o Tau, que é a Liturgia a produzir frutos.

A liturgia a produzir frutos é o testemunho da Palavra, que em razão de hoje ser cultuada apenas por ritos simbólicos, produz a sensação de que a Igreja é antiga, sistemática, fora de época.

Mas, a Palavra revela sua atualidade se, ao invés de apenas simbólica, for testemunhada como experiência de vida, pela confirmação de alguém que vivenciando determinada situação, ao valer-se da Palavra para dar curso em sua vida, foi atendido por Ela, ou seja, dá-se o testemunho da eficácia da Palavra que significa apresentar um fruto gerado pela Palavra, que glorificou ao Senhor.

E, assim, ao invés da liturgia simbólica apenas cultual, a liturgia acontece pelo testemunho construído no curso do processo das ações dessa pessoa que mostra a sua fidelidade e confiança na Palavra, celebrando-se o exemplo da vitória pela fidelidade no processo de sofrimento, de dor, de angústia, de nascimento de empreendimento, que resultou no êxito, ou eficácia da Palavra, ou seja, no trabalho que teve, que quer dizer serviço ou Liturgia da Palavra, ao mesmo tempo que, o êxito, ou resultado da eficácia da Palavra significa que o Senhor do Céu e da Terra foi glorificado pela Palavra

Hoje vivenciamos esse processo que é apenas simbólico quando no culto dominical, se faz a proclamação da santidade pelo bem e pelo justo recebido pelos fiéis, sob o seguinte rito:

– O Senhor esteja convosco.

– Ele está no meio de nós.

Corações ao alto.

O nosso coração está em Deus.

Demos graças ao Senhor, nosso Deus!

É nosso dever e nossa salvação.

Portanto a sensação que vivenciamos de que os serviços religiosos estão obsoletos, na verdade é por que não estamos cumprindo o nosso dever de darmos graças ao Senhor, isto é, de celebrarmos o verdadeiro testemunho da Palavra, pois, igual os modernistas pensam hoje, os discípulos de Jesus Cristo, mereceram correção para que entendessem que a Palavra não é para ser mudada pela conveniência humana, mas para ser cumprida:

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17“Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento.
18Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra.19Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5,17-19 – Liturgia Missal 10ª Semana do Tempo Comum – Ano A – 10/06/2020).

Mas se não se celebra o trabalho, ou, testemunho (Tau), não é porque não há testemunho, e sim porque o serviço religioso permaneceu parado nos símbolos, excluindo o trabalho, desde os tempos dos Apóstolos, como já advertia São João, no Apocalipse, quando na Carta à Primeira Igreja, isto é na carta à Igreja Católica, porque é a primeira Igreja Cristã, de que tinha contra ela seu afastamento do primeiro amor.

Afastar-se do primeiro amor, quer dizer, afastar-se do testemunho da Palavra, dada pelo Cordeiro, como meditado no 2º Terço do Rosário, no 5º mistério doloroso, em que se conclui “Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está consumado” (Jo 19,30 – Liturgia Maria, Mãe da Igreja – 24/05/2021), isto é, o cumprimento pelo testemunho vivo consumou a Palavra de forma real, e não apenas por um ideal simbólico.

Também podemos reconhecer a esterilidade dos rituais simbólicos em frontal contradição com o testemunho quando acompanhamos o pensamento de Charles Peirce que critica abertamente a estagnação dos cultos farisaicos, no Collected Papers nº 1.40, § 5º, quando diz:

40. Os lógicos críticos têm sido muito afiliados à teologia dos seminários. Sobre o pensamento que se passa nos laboratórios, eles não sabem nada.

Agora, os seminaristas e religiosos geralmente, em todos os tempos e lugares, se opuseram à ideia de crescimento contínuo. Essa disposição do intelecto é o elemento mais católico da religião. A verdade religiosa, uma vez definida, nunca deve ser alterada nos mínimos detalhes; e a teologia sendo tida como rainha das ciências, os religiosos lutaram amargamente com fogo e tortura todos os grandes avanços nas verdadeiras ciências; e se não houver verdadeiro crescimento contínuo nas idéias dos homens, onde mais no mundo deve ser procurado?

Assim, encontramos esse povo estabelecendo linhas duras de demarcação, ou grandes abismos, contrariamente a toda observação, entre homens bons e maus, entre sábios e tolos, entre o espírito e a carne, entre todos os diferentes tipos de objetos, entre uma quantidade e outra. Estão tão calados nessa concepção do mundo que quando o seminarista Hegel descobriu que o universo está em toda parte permeado de crescimento contínuo (por isso, e nada mais, é o “Segredo de Hegel”), era para ser uma ideia inteiramente nova, um século e meio depois que o cálculo diferencial estava em funcionamento (PEIRCE, 1994, p. 31)1 [tradução nossa].

Assim o problema não é a Palavra que se tornou obsoleta, mas sim que precisamos aprender a viver a Palavra sob o testemunho do Cordeiro, ou, voltarmos ao primeiro amor, e assim mostrar que a Palavra é eficaz, capaz de nos oferecer segurança, alento, saúde, e alegria, quando vivida sob a sua fé.

E aprender a vier a Palavra significa que devemos incluir o Trabalho, isto é, Tau, celebrando-se o fruto, a consumação da Palavra, acrescendo-O ao Alfa e ao Ômega, aplicando os ensinamentos de Peirce quando disse que “o seminarista Hegel descobriu que o universo está em toda parte permeado de crescimento contínuo (por isso, e nada mais, é o “Segredo de Hegel”), era para ser uma ideia inteiramente nova (Ibid.)” e, renunciarmos o culto do testemunho simbólico que nas celebrações, chama isso de oferecer a dor ou o sacrifício.

Conclusão:

Ao se pensar em uma Igreja atual, temos de pensar que a atualidade é a consumação do testemunho de cada vez mais certeza da eficácia da Palavra como resultado de Vida e Justiça, sob o profundo cuidado de não se pretender deturpar a Palavra para se fugir do Trabalho (Tau) que edifica a vida, pois aos olhos humanos, dar o testemunho significa sacrificar-se como já advertiu um dia Santo Ambrósio.

Sei que principalmente em regiões do Oriente (acrestaram coisas) àquelas que foram por primeiro transmitidas pelos nossos anciãos, uns por fraude, outros por zelo – os heréticos por fraude, os católicos por zelo. Aqueles, tentando esquivar-se fraudulentamente, acrescentaram o que não era devido, enquanto estes, esforçando-se para evitar a fraude, por certa piedade e imprudência, ultrapassaram os limites colocados pelos anciãos (SANTO AMBROSIO, 1996, P. 23-24)2

Celebremos a Vida, celebremos a Certeza da Palavra, pois proclamar as maravilhas do Senhor é nosso dever e nossa salvação.

1PEIRCE, Charles Sanders. The Collected Papers of Charles Sanders Peirce Peirce, vol 1: CP 1.40 Cross-Ref:†† §5. HEGELISM †2. Harvard University Press.

2SANTO AMBROSIO. Ambrósio de Milão. São Paulo: Paulus, 1996.