COVID-19: governantes e empresários no caminho errante para a morte

O presente artigo traz uma crítica à iniciativa de se dar soluções para o problema sobre o Covid-19, propondo a substituição da solução do problema para saída do problema.

Estamos vivendo um momento dramático de extrema gravidade, em que todos estão exposto ao risco de morte imediata, e, já não se sabe, se hoje, estaremos em casa, ou, morrendo asfixiado na fila de um leito de morte, pois, se nas ultimas décadas perdemos a dignidade de cidadão com as soluções de líderes inspiradas na conveniência de lucros, agora o que testemunhamos é que a indignidade está se tornando a cidadã das hipocrisias sociais, onde o grito de socorro daquele que agoniza, não se escuta, e, tornam as democracias mera utopia ou, mesmo, a exemplo do efeito Covid-19, “letra morta”.

Ilustração:pixabay

Os erros que se testemunha no presente são perceptíveis ao observamos que os modelos da administração moderna têm como referência líderes que dão soluções, emoldurando ícones como por exemplo, Steve Jobs, Bill Gates, que, certamente na faculdade, não frequentaram aquele barzinho preferido da turma, e por isso não ouviram as lições de J. Quest quando cantava:

Viver é uma arte, é um ofício
só que precisa cuidado.
Prá perceber quer que olhar só pra dentro
é o maior desperdício.
O teu amor pode estar do seu lado (REIS e JOTA QUEST, 2004)1.

Assim, nos seus modelos de gestão, prometem, sob ilusões de engenhosidades, vender todos os tipos de soluções, no entanto, arquitetadas no desperdício de olhar só para dentro de si, por isso, acabam por escravizar as pessoas para sempre depender de soluções, ao passo que o cuidado no ofício da arte, não é para se dar soluções, mas para se criar saídas, pois, o amor que está ao nosso lado, sob o desperdício de não o vermos, é a nossa própria vida.

Portanto dar soluções, é o modelo aplicado pelos atuais líderes, que norteia a Humanidade como solução para a pandemia atual, o Covid-19, e, pela sua ineficiência, está levando, a saúde, os empresários e os colaboradores para a ausência de recursos de sobrevivência, ou seja, todos caminham para a asfixia, porque o momento não é para se dar soluções mirabolantes, mas sim, para se encontrar saídas.

Abrindo as fronteiras do olhar para fora de si mesmo

Ao conseguir abrir os olhos para fora de si mesmo, o primeiro norte a apontar saídas, vem da possibilidade de se perceber que o princípio aplicado na fabricação de vacinas de combate ao Covid-19, isto é, da indução do organismo para produção de anticorpos visando a estabilidade da saúde e cura pode ser uma saída.

Assim, se é saída, é porque esse princípio, deve ser aplicado não somente para a peste, pois, se abrirmos o olhar veremos que a realidade nos apresenta inúmeros sistemas que estão buscando anticorpos para a estabilidade do ambiente, ou seja se constata a instabilidade do Planeta, reflexo do comprometimento da saúde do Mundo, que está lutando, e, com violência, para curar as suas chagas, como nos ajuda a compreender isso, a Teoria de Gaia:

A teoria de Gaia é uma hipótese da Ecologia que estabelece que a Terra é um imenso organismo vivo. Elaborada pelo cientista inglês James Lovelock, em 1979, ensina-nos que nosso planeta é capaz de obter energia para seu funcionamento, enquanto regula seu clima e temperatura, elimina seus detritos e combate suas próprias doenças, ou seja, assim como os demais seres vivos, um organismo capaz de se autorregular (FIRMO e FINAMORE, 2020, p. 1)2.

Esse processo de autorregulação ou auto recomposição do organismo é chamado de autopoieses (MATURANA e VARELA, 2001)3, e nós, como que dentro do olho do furação, estamos sob forte violência, o que nos leva à primeira constatação da nossa condição real: não estamos no controle, portanto, não somos capazes de dar soluções para vencer algo maior do que o maior dos furacões, restando-nos como meio de cura somente encontrar saídas.

Se demos um primeiro passo para a saída, com o reconhecimento de não sermos capazes de dar soluções, ao tentar darmos o segundo passo para se encontrar saídas, ao lado do princípio da criação de vacinas, há o isolamento, mas que não deve ser visto como uma desgraça, e sim, como uma dieta médica, ou, jejum, isto é, o tempo de convalescência, ou, privações e remodelações de vida, que, também foi cantado no barzinho da faculdade dos tempos de Gates e Jobs em bad moon rising :

Não saia essa noite.
Bem, ele é obrigado a tira a sua vida.
Há uma lua ruim em ascensão.
Eu ouço furacões soprando,
eu sei que o fim está chegando em breve
Eu temo que os rios fluam
eu ouço a voz da raiva e da ruína (FOGERTY e CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL, 1969)4
[tradução nossa].

Para muitos acostumados a estarem sob o controle das suas coisas, a ideia do isolamento parece suicídio, pois, como se lucrar ao se deixar de vender ou comprar, aparentemente não se resistiria empregadores e empregados. A resposta para esse momento pode receber algumas luzes do texto produzido em 09/12/2016, isto é, há 3 anos, quando já se falou da experiência do homem abrir mão do controle, no enfrentamento da pandemia da asfixia:

Como no contágio por um vírus ou uma bactéria, a partir daí, adquirimos uma doença, cujo hospedeiro é a avidez, e o sintoma é a alucinação, pois ao amarmos o dinheiro, ele sempre nos parecerá insuficiente, e o queremos sempre mais (Cf. Ecl 5,9), cobiçando cada vez mais, sem o limite do que nos é necessário ou, do que nos pertence, sob o efeito alucinógeno de se ter o domínio com ele, ao passo que, a contrário sensu, a ele submetemos toda a nossa livre iniciativa, que passa a ser dominada por ele e, com isso, sujeitamos nossas vontades a ele, nos ajoelhamos, suplicamos, nos arrastamos, nos matamos, assassinamos, casamos, amigamos, traímos, amamos, adorando uma imagem ilusória da segurança, do poder do cara e coroa.

Essa doença tomou uma proporção global como uma pandemia, pois, pelo amor ao dinheiro, o mundo sofre alucinações gigantescas como o fim dos mercados comuns, fim do emprego no mundo, riscos de queda dos ricos e poderosos, que, beirando a uma convulsão, dentro de um escuro leito, atônito, moribundo, não se vê esperança, porque não se guarda mais a fé, agonizante sob o efeito da ilusão de uma pobreza extrema pela perda da energia da sua vida, o dinheiro, se aflige em múltiplos tormentos (Cf. 1Tm 6,10) (LUCIO FILHO, 2016)5

Essa experiência do nosso terror de sermos convidado a andar sob um abismo, sem segurar com nossas mãos, também foi cantada no barzinho da faculdade, na canção Só o fim:

Se o chão abriu sob os seus pés
e a segurança, ela sumiu da faixa.
Se as peças estão todas soltas,
e nada mais encaixa.
Oh, crianças isso é só o fim.
Isso é só o fim,
Isso é só o fim (HUMMEL, MULLEM, NOVA e CAMISA DE VÊNUS, 1986).6

Se conseguimos abrir: a) as portas do olhar para fora de nós mesmos e, b) se nos vemos sem os controle da situação; é como se tivéssemos adquiridos duas pernas, a nos tornar capazes de caminhar para a saída, ou seja, iniciando o ofício da Arte da Vida que canta o Jota Quest, para se perceber a fonte da segurança a nos amparar.

Para se perceber isso, é preciso nos voltarmos para o processo de autopoieses do sistema todo, isto é, o Planeta, que como se estivesse em uma convulsão, busca a cura através da autorecomposição, e nós estando dentro dele, precisaremos criar uma identidade capaz de revelar se ocupamos o perfil dos anticorpos, ou, dos invasores pois, neste segundo caso, seremos eliminados como algo inútil, maléfico, ou desprezível ao organismo, através de uma hemorragia, um vômito, ou, um conteúdo purulento.

E para criar essa identidade precisamos voltar ao nosso índice vital, os seja, nas informações que estão impressa no DNA do organismo, capazes de nos dar sinais perceptíveis de reação, como por exemplo na biologia, quando nos deparamos com o sintomas da febre alta, ou, nos princípios de uma acidente vascular cerebral (AVC) pela pressão alta.

No caso da humanidade que é constituída de consciência, os sinais se dão pela lições de seus ancestrais, como uma cultura, por isso, pedimos licença para chamar a reunião dessa cultura de Acervo Cultural da Humanidade, que, a exemplo do artigo “previna-se da pandemia da fome” (cit. nota 5), como um sinal para esse momento, também, há inúmeros outros como o mais recente, o fabuloso sinal do ParHelio da China apresentado sob o Cântico: da Luz do Mundo És Aurora” (LUCIO FILHO, 2020)7.

Se esses sinais se dão na forma de cultura dos ancestrais, já se é capaz, com o passo da primeira perna, de se olhar para fora de si, para assim, superar a incerteza desse momento, se ensaiando a segurança pelo passo da segunda perna, na renúncia da autossuficiência se reconhecendo impotente, fora do controle.

Esse processo vai criar uma incrível ferramenta da Arte de viver, através do ofício da prudência pois, para que se produza seus efeitos do Acervo Cultural da Humanidade essa mesma prudência se efetiva pelo ofício do respeito ao conselho, como um testamento deixado por nossos ancestrais, ou seja, como no Direito moderno na sucessão testamentária, o conselho é uma disposição de última vontade, por isso, não pode ser quebrada, assim, diante do conselho, pela ofício da prudência se acolhe suas orientações.

Conclusão

Há uma certeza, o Planeta entrou em processo de convalescência, para isso, conta com todas as proteínas, vitaminas, e organismos energéticos de onde ele vai tirar forças para se recuperar e eliminar os invasores, não é apenas no universo de humanidade, mas sim, de todas as criaturas, por isso, repetimos, isto não é uma hipótese, é uma certeza.

Diante disso, não há uma solução humana, para resolver um problema atrás do outro, está fora de suas mãos, assim, o que resta são as saídas para o equilíbrio do ambiente como solução global de tudo, efetivadas a partir do acolhimento dos sinais dado para a conscientização humana.

O primeiro sinal dado nesse processo para a humanidade é para a conscientização que ela está na rota da destruição, contudo, o Planeta, como um organismo em “dieta médica”, não rejeita um bom aliado, como que escolhendo adequadamente os alimentos para fortalecer sua imunidade, abre uma porta, a partir da sabedoria ancestral para que especificamente em uma parte do seu organismo, se opere a cura, chamada de Aliança (LUCIO FILHO, 2019)8.

Portanto, esperamos que o objeto desse artigo não seja entendido como algo da inteligência de uma homem querendo se autopromover, ou, convencer alguém de alguma ideia pessoal sua, mas sim, por ofício da arte, a transcrição de um aviso médico, como o termômetro para a febre, acompanhados de sinais verdadeiros que podem ser testemunhados por qualquer pessoa.

Assim, se isso parece assustador é porque, pela prudência, espera-se o despertar de uma consciência que está morta e insensível para os acontecimentos, para que as pessoas não se comportem como os líderes “donos de soluções convenientes”, dizendo ser tudo normal a massiva mortandade de pessoas, e que tudo vai ficar bem com o seu salvador chamado de mercado econômico, porque, na ilusão de que tudo é normal, acostumando-se com o mal, não suportarão o que terá pela frente, e com isso , serão eliminados como células mortas.

Se há medo, a segurança completa estará na prudência, prestando atenção aos sinais, que como conselhos testamentados, estão sendo apresentado a todos, para que se abra a visão, e, se reconheça a saída do problema, ao invés da ilusória solução de um problema como salvação, pois essa saída, já se cantou no clube da esquina Milton Nascimento:

Eu já estou com o pé nessa estrada,
qualquer dia a gente se vê.
Sei que nada será como antes, amanhã.
que notícias me dão dos amigos?
Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração,
amanhã ou depois de amanhã.
Resistindo na boca da noite um gosto de sol.
Num domingo qualquer, qualquer hora.
Ventania em qualquer direção.
Sei que nada será como antes amanhã.

Que notícias me dão de você?
Alvoroço em meu coração,
amanhã ou depois de amanhã.
Resistindo na boca da noite um gosto de sol
(BASTOS e NASCIMENTO, 1972)9.

1REIS, Nando e JOTA QUEST. Do seu lado. Sony, 2004. Disponível em https://youtu.be/h8y-45T_Hak . Acesso em 06 mar. 2021.

2FIRMO, Heloísa, FINAMORE, Renan. O novo coronavirus e a hipótese de gaia. In Conexão UFRJ 02/04/2020. Disponível em https://conexao.ufrj.br/2020/04/02/o-novo-coronavirus-e-a-hipotese-de-gaia/ . Acesso em 06 mar 2021.

3MATURANA, Humberto R. e VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas para a compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.

4FOGERTY, John e CREEDENCE Clearwater Revival,Bad moon rising. In Album Green River, 1969. Disponível em https://youtu.be/pbwBKB7UQYI?list=RDpbwBKB7UQYI . Acesso em 06 mar. 2021.

5LUCIO FILHO, Laurentino. Previna-se da pandemia da fome. Disponível em http://liturgiadigital.blogspot.com/2016/12/previna-se-da-pandemia-da-fome.html .Aceso em 06 mar. 2021.

6HUMMEL, Karl, MULLEM, Gustavo, NOVA, Marcelo e CAMISA DE VÊNUS. Só o fim. In Album Correndo o Risco, RGE, 1986. Disponível em https://youtu.be/Vd3AmJ4MMlw . Acesso em 06 mar. 2021.

7LUCIO FILHO, Laurentino. Retiro da Quaresma: da Luz do Mundo És Aurora. Disponível em https://formaresaber.com.br/retiro-da-quaresma-cantico/. Acesso em 06 mar. 2021.

8LUCIO FILHO, Laurentino. A comunicação inteligente entre a Terra e a Constelação de Auriga. Disponível em https://formaresaber.com.br/a-comunicacao-humana-entre-a-terra-e-a-constelacao-de-auriga/ . Acesso em 05 mar. 2021.

9BASTOS, Reinaldo e NASCIMENTO, Milton. Nada será como antes. In Clube da Esquina, 1972, EMI. Disponível em https://youtu.be/v6ZUwtAty8k . Acesso em 06 mar. 2021.